Infelizmente, a deturpação do objetivo das pesquisas eleitorais
vem aumentando cada vez mais no Brasil, mas afinal, qual é o verdadeiro
objetivo e função das pesquisas?
Pesquisas eleitorais são, apenas e tão somente, a melhor ferramenta
de planejamento que temos acesso. Sim, pesquisas não são fontes reveladoras de
resultados das urnas, mas são ótimas para entender qual o melhor caminho
trilhar e como trilhar.
Explicando analogicamente: Pesquisas não são bolas de cristal!
São como o aplicativo de trânsito que indica o melhor caminho e, despretensiosamente,
o possível horário que você poderá chegar ao seu destino, caso TUDO dê certo!
O resultado do voto estimulado que estampa as manchetes da
grande imprensa nacional é o dado menos importante entre as 200 páginas que uma
pesquisa eleitoral deve ter! Vamos entender?
Em um levantamento pessoal, o pesquisador deve entregar um
disco com os nomes dos candidatos nas mãos do entrevistado para que esse faça a
sua escolha. No caso de pesquisas telefônicas, o pesquisador deverá citar os
nomes dos candidatos de forma aleatória. O IBESPE tem o seu próprio sistema de
coleta de dados que randomiza automaticamente os nomes para assim, não haver
nenhum tipo de influência aos entrevistados.
A pergunta que o pesquisador faz é simples e direta: Se a
eleição fosse hoje e esses fossem os candidatos, em quem você votaria para
Presidente da República?
Temos diversas condicionantes. Analisemos apenas algumas: A
eleição não é hoje! Os candidatos podem mudar! O voto no candidato é convicto?
O eleitor realmente irá votar? Veja como é absurda a exposição ou análise de um
dado tão frágil como esse!
O IBESPE tem plena consciência da verdadeira função das
pesquisas e por isso, NÃO divulga pesquisas eleitorais! Elas devem estar
restritas a equipe de campanha e ao candidato para que sejam criadas
estratégias para chegar ao seu maior potencial, que poderá ser a vitória ou uma
boa derrota.
Outro detalhe risível é acreditar que pesquisas eleitorais
mexem com a cabeça dos eleitores! O chamado efeito bandwagon já foi
provado várias vezes que é inexistente, pois quando ocorre, a sua oscilação
fica dentro da margem de erro amostral! Mesmo assim, em todas as eleições o
IBESPE monitora esse efeito. Vamos aos dados mais atuais?
Em estudo realizado pelo IBESPE um dia após a divulgação de uma
pesquisa nas eleições da cidade de São Paulo em 2020 tivemos os seguintes
resultados: 96,3% não sabiam que havia sido publicada uma pesquisa eleitoral;
3,2% sabiam, mas não tiveram a capacidade de descrever o resultado da pesquisa
e 0,8% sabia da pesquisa e soube dizer a ordem apenas dos 3 primeiros candidatos,
mas não o percentual de cada um.
A imprensa, que é naturalmente politizada, os eleitores
ideológicos (que são a grande minoria!) e os políticos acreditam que o eleitor
médio, a população em geral, passa o dia consumindo informações políticas. Isso
é um erro absurdo!
Para apoiar ainda mais minhas informações, apresento dados da
pesquisa nacional realizada pelo IBESPE entre os dias 16 e 17 de novembro de
2020, um dia após a realização do 1º turno das eleições municipais, em 198
municípios (de todos os portes e estados) para saber daqueles que efetivamente
votaram em um candidato a prefeito, o que motivou a tomar essa decisão. 34,2%
votaram devido as propostas do candidato, 22,6% porque desejavam mudança e
outros 22 temas apareceram como fatores motivadores. As pesquisas eleitorais apareceram
em penúltimo lugar com apenas 0,1%! Ironicamente, esse é o mesmo percentual
daqueles que assumiram votar porque receberam dinheiro para tomar a decisão!
Sim! A imprensa e os políticos ignoram como funcionam e pra
que servem as pesquisas e por isso são enganados! E quem se aproveita dessa
situação?
Em 2020 tivemos o crescimento de aproximadamente 300% das
pesquisas divulgadas autofinanciadas! O que é isso?
Em anos eleitorais, para uma pesquisa ser divulgada, ela
deverá ser registrada antecipadamente no TSE. Nesse registro deverá constar
todos os dados técnicos, entre eles o estatístico responsável, o nome do
contratado (Instituto de pesquisas) e o contratante (cliente). Pois bem, como
explicar, um instituto que é uma empresa e que sobrevive através da venda de
seus serviços, ser o Contratado e ao mesmo tempo o Contratante?
Essa ação é realizada em grande parte por institutos criados
de forma instantânea, que oferecem o serviço de produção de pesquisas fake para
divulgação e, algum político ou equipe de campanha, acabam acreditando que essa
“ação de marketing” terá algum efeito.
A imprensa, consciente ou não, divulga essa pesquisa fake e
o resultado, como provei acima é inútil. Enfim, o crime eleitoral custa caro e não
compensa!
Os institutos conhecidos devem se lembrar que o único
patrimônio de um instituto de pesquisas é a sua credibilidade. Ela é
inegociável!
Aceitar entrar uma guerra por motivos ideológicos ou financeiros
poderá ter algum fruto rapidamente, porém, no longo prazo, será o fim dessa
empresa!
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