segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

Mensagens vindas do Chile

 

 Ontem, 19 de dezembro, o político de esquerda e ex-líder estudantil, Gabriel Boric, venceu no 2º turno o candidato conservador, José Antonio Kast, e aos 35 anos de idade, se tornou presidente do Chile.

Boric fundamentou a sua campanha na promessa de trazer mais justiça social ao povo chileno, a partir da demolição dos pilares conservadores e liberais que tornaram esse país na nação mais bem sucedida da América Latina.

O candidato conservador, Kast, havia vencido o 1º turno com aproximadamente 30% dos votos válidos, mas acabou sendo derrotado no 2º turno e isso, na minha opinião, serve como um aviso ao Presidente Jair Bolsonaro para as eleições de 2022.

Faço essa afirmação pois, o discurso conservador de Deus, Pátria e Família tem capacidade natural de unir boa parte dos eleitores brasileiros ou de qualquer país ocidental, empurrando o seu candidato ao 2º turno, porém, para vencer as eleições, algo mais precisa ser feito.

Se o candidato for da situação, precisará mostrar os bons resultados do governo e, caso o candidato represente a oposição, ele deverá ter a narrativa alinhada com as demandas e anseios mais latentes dos eleitores.

Bolsonaro tem a seu favor o discurso e as ações conservadoras, além de um governo com 3 anos sem nenhum escândalo de corrupção, o que o colocam muito próximo do 2º turno, mas para vencer terá de mostrar os resultados do seu governo.

Tudo indica que ele terá como adversário o ex-presidente Lula que tem sua base eleitoral formada por 3 tipos de eleitores:

1.Aqueles que acreditam que Lula e o PT jamais roubaram e são acusados injustamente;

2.Aqueles que acreditam que Lula e o PT roubaram, mas foram incentivados por uma causa maior, pela implementação de sua ideologia;

3.Aqueles que acreditam que Lula e o PT roubaram, mas no período em que eles estiveram no governo, sua vida era melhor, foi um governo de resultados, o tradicional “rouba, mas faz”.

No Brasil mostrar resultados não é nada fácil, afinal, os governos – de todas as instâncias – cresceram tanto que reduziram a praticamente zero a capacidade de investimento do Poder Público.

Além desse obstáculo, Bolsonaro sofre com o ativismo judicial, municiado pela oposição ao seu governo.

O exemplo mais claro é a atuação do Senador Randolfe Rodrigues que representa o Amapá, um estado com 16 cidades (0,29% das 5.570) e 518.527 eleitores (0,35% dos 145 mi), que não se furta em atravessar a Praça dos Três Poderes e incitar a decisão monocrática de um Ministro do STF contra a decisão do Executivo ou do Legislativo.

Bolsonaro precisará de profissionais capazes de identificar tecnicamente as demandas e anseios dos eleitores, construir uma narrativa capaz de emocionar essas pessoas e por fim comunicar de forma adequada e convincente.

Ter uma equipe formada por profissionais de pesquisas, estrategistas e marketing político ajudará a manter o seu potencial eleitoral no universo das redes sociais e fincar com pé nos outros meios de comunicação.

O TSE buscará de todas formas limitar o alcance das redes sociais, hoje mais favoráveis ao Presidente da República, por isso, o Horário Eleitoral Gratuito, bem como os debates serão essenciais para Bolsonaro.

As eleições de 2022 serão muito diferentes de 2018 e o Presidente, seus companheiros mais próximos, entre eles seus filhos, devem aceitar que existe bons consultores políticos que congregam com seus valores.


quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

É o Congresso, Bolsonaro!

 

O estrategista político de Bill Clinton nas eleições americanas de 1992, James Carville, cunhou uma frase que acabou por se tornar case de marketing eleitoral: “É a economia, estúpido!”

Carville deixava claro com essa expressão impactante que o presidente em exercício, George Bush, apesar de ter vencido a Guerra do Golfo (1991) e com ela ter devolvido a autoestima do povo americano afetada após a triste experiência da Guerra do Vietnã (1955 a 1975), administrava um país que passava por um momento de recessão e que a pauta principal das eleições deveria ser o tema economia.

Clinton aceitou a sugestão, venceu as eleições e a frase de James Carville virou um livro de grande sucesso!

Esse insight não surgiu espontaneamente da genialidade de Carville. As estratégias eleitorais são construídas a partir de informações levantadas por pesquisas de opinião – quantitativas e qualitativas - que captam o verdadeiro sentimento da população, para assim identificar quais deverão ser as pautas para tentar buscar o sucesso eleitoral. Nem todos os políticos trabalham dessa forma, seja por acreditar que pesquisas têm preços muito elevados (o que não é verdade) ou por achar, equivocadamente, que elas são fontes de premonição de resultados e não a principal base do planejamento de uma campanha.

O processo eleitoral dura em torno de 6 meses, pois antes desse período os eleitores ainda estão muito dispersos. Porém, em caso de vitória, o político deverá estar preparado para prestar contas e dar resultados durante os próximos 4 anos.

A dificuldade de Jair Bolsonaro governar o país nesse primeiro mandato deixou muito claro que houve foco excessivo na campanha presidencial, enquanto a necessidade de se ter um Congresso – Deputados e Senadores – alinhados com o pensamento do Executivo foi deixada em segundo plano.

A Constituição de 1988, apesar de promover o regime presidencialista, foi confeccionada para um Brasil parlamentarista e mesmo a população brasileira reafirmando o seu desejo em viver em um país com um Presidente da República fortalecido (plebiscito de 1993), o Legislativo vem avançando sobre as matérias do Executivo e hoje tem poderes capazes de inviabilizá-lo!

Formar uma grande bancada a seu favor será importante não só para administrar com um pouco mais de tranquilidade, mas também para ter ao seu lado partidos com capacidade financeira para as próximas eleições e assim, pensar em um projeto de longo prazo ao país.

Os partidos sabem disso, pois a divisão do Fundo Eleitoral tem relação direta com a sua força eleitoral, vejamos:

- 48% são divididos entre os partidos, de forma proporcional ao número de representantes na Câmara dos Deputados na última eleição geral

- 35% vão para os partidos na proporção do percentual de votos válidos obtidos pelas siglas que tenham pelo menos um representante na Câmara

- 15% são distribuídos entre as legendas na proporção do número de representantes no Senado

- 2% são divididos igualmente entre todos os partidos registrados no TSE.

O eleitor brasileiro é materialista e egoísta ao extremo e por isso, o tema economia será sempre a principal pauta das eleições brasileiras, ou seja, em nosso país a frase de Carville se mantem atualizada!

Por outro lado, se Bolsonaro pensa em um segundo mandato mais calmo, deverá focar na formação de uma grande bancada, pois eu tenho certeza que a oposição, diante da dificuldade de enfrentar o Presidente em uma reeleição nas urnas, já está desenhando esse quadro!