terça-feira, 6 de abril de 2021

O mundo paralelo dos políticos

 


- João, suas pesquisas não detectaram o que está acontecendo aqui embaixo?

Anos atrás, um político muito importante de Brasília me confidenciou que, em 20 de junho de 2013, a então Presidente Dilma Rousseff, ao ver manifestantes chegando de forma feroz no Palácio do Planalto, ligou para o consultor político João Santana cobrando explicações.

Não há como confirmar se realmente esse diálogo ocorreu ou se é apenas mais uma das lendas urbanas políticas brasileiras, porém, ele mostra algo que é normal e, infelizmente, cada vez mais rotineiro entre os políticos no Brasil.

Políticos são seres humanos comuns e por confiança, sempre se alimentam de informações do seu círculo mais íntimo que por muitas vezes evitam a dura realidade das críticas. Temos que entender que para os amigos e assessores é mais seguro, por motivos profissionais, financeiros ou afetivos, omitir alguma notícia negativa ao seu líder.

Em 2012, com a chegada das redes sociais, o círculo de “assessores” se multiplicou e, a terceirização do gerenciamento das plataformas, afastou ainda mais o político da opinião real dos eleitores.

A máxima de que “todo mundo está dizendo que” virou uma realidade! A disputa por hashtags e trending topics se tornou algo insano e não representam em nada a opinião dos eleitores em geral. Muito pelo contrário!

Em estudos nacionais realizados aqui pelo IBESPE demonstramos que 24% dos eleitores dizem não ter acesso regular a internet. Dos 76% que dizem possuir, 16% afirmam não ter redes sociais e 37% não veem o assunto política nas redes. Para piorar ainda mais, notamos que os seguidores de uma linha de pensamento ficam apenas em sua bolha, reduzindo ainda mais o alcance de uma mensagem política nas redes sociais. Outro ponto fundamental para essa análise, é entender quais são as redes sociais da sua cidade e estado que mais os eleitores fiéis e potenciais acessam para os assuntos políticos. E mais! Os eleitores querem cada vez mais por políticos com posicionamento! Ter atenção ao conteúdo e a forma de transmitir a sua mensagem é fundamental. Enfim, são tantas variantes que acabam para reduzir demais o alcance das mensagens!

A insanidade de delegar uma campanha e um mandato exclusivamente para as redes sociais é crescente! Chegamos ao absurdo de Senadores da República perguntarem a opinião de seguidores em uma votação em plenário! Esses políticos devem ser conscientes de que não há dificuldade de forças externas e contrárias a eles criarem grupos de pressão e desvirtuar a sua votação.

Sempre deixo muito claro de que as redes sociais são importantes e complementares, mas foram alçadas ao nível essencial pelos políticos de forma irresponsável.

Notamos através de estudos que a desconexão dos políticos com a temperatura das ruas é crescente!

A forma mais confiável de buscar informações e entender o real sentimento dos eleitores continua sendo através de pesquisas de opinião. Porém, pesquisas devem ser profundas, densas, com planejamento geográfico e com análises técnicas para embasarem as estratégias políticas, até mesmo da atuação do político nas redes sociais.

Voltando a possível história do início do texto, temos um dilema: Se as pesquisas de João Santana não detectaram é por que foram mal feitas e se detectaram, Santana não foi sincero em avisar Dilma que algo muito ruim poderia acontecer.

Nós do IBESPE, em abril de 2013, em pesquisa realizada na cidade de São Paulo, apesar da aprovação de 65% de Dilma, notamos que algo muito ruim poderia acontecer. Em análise retrospectiva, 78% dos eleitores acreditavam que o Governo Dilma era pior do que o Governo de Lula e em análise prospectiva, 82% acreditavam que se continuasse da forma que estava, o Brasil iria piorar.


Nenhum comentário:

Postar um comentário