sexta-feira, 29 de abril de 2022

A força dos Prefeitos Municipais

 


Percebo que alguns jornalistas, políticos e profissionais de marketing político insistem em transferir o mesmo cenário eleitoral polarizado do contexto federal para o nível estadual. No Estado de São Paulo, por exemplo, os olhares estão mais direcionados para a disputa entre Tarcísio de Freitas, representando os eleitores mais à direita e, um candidato de esquerda, possivelmente, Marcio França ou Fernando Haddad.

Na minha opinião essa leitura está equivocada, afinal, a realidade dos estados, a formatação das campanhas eleitorais e os atores são totalmente diferentes. Ademais, notamos que em alguns estados existem players com grande potencial de votos sem ligação – partidária e/ou ideológica – com Bolsonaro ou Lula.

Outro ponto a se destacar é a correlação estatística (Pearson) existente entre os votos dos cargos disputados. Em estudo realizado pelo IBESPE, pudemos identificar a boa relação entre o voto do Deputado Federal e o voto para Presidente da República. Esse dado se repete, em menor grau, entre os votos para Deputado Estadual e Governador do Estado.

Além de todos esses aspectos apresentados, não podemos esquecer de um ator fundamental para a eleição de Governador do Estado: os Prefeitos Municipais.

Os Prefeitos têm capacidade política e financeira para convencer Vereadores, lideranças da sociedade civil, associações etc. a apoiarem um candidato ou projeto de governo e, enquanto as campanhas profissionais para o Governo do Estado transcorrem em salas de reuniões, gravações de programas eleitorais, entrevistas, visitas programadas etc. um mar de agentes políticos percorre as cidades conversando diretamente com as pessoas.

Em todas as pesquisas notamos que é crescente a indignação das pessoas pelo distanciamento dos políticos - muito presente nas redes sociais e muito ausente das ruas - o que alimenta ainda mais a necessidade de um exército de pessoas em campo. Por esse motivo, ter Prefeitos aliados é de suma importância para um candidato ao Governo do Estado.

Voltando às eleições do Estado de São Paulo e considerando a força dos Prefeitos em uma eleição ao Governo do Estado, a polarização entre Tarcísio e a Esquerda poderá sofrer algum abalo. Vamos aos números:

Dos 645 municípios do Estado de São Paulo, 151 (23,4%) são governados por prefeitos mais alinhados a Tarcísio de Freitas e dos 32,3 milhões de eleitores do Estado, essas cidades somam 5,9 milhões de eleitores (18,3%).

Quando falamos de governos mais alinhados à Esquerda – Márcio França ou Fernando Haddad - temos 48 municípios (7,4%) com 1,9 milhões de eleitores (5,9%).

Porém, quando tratamos de governos municipais mais alinhados a Rodrigo Garcia, representante do atual governo, temos 446 municípios (69,1%) e neles residem 24,3 milhões de eleitores (75,2%). Se por um lado esse candidato carrega a reprovação pessoal do atual Governador João Doria, traz consigo a capacidade financeira de transformar projetos municipais em realidade, o que certamente ajudará prefeitos para as eleições de 2024.

Devemos considerar que os eleitores têm independência em votar e os Prefeitos, com os olhos mirando 2024, sentirão a temperatura de sua cidade em relação aos candidatos e isso poderá mudar o seu apoio, ou seja, se um dos candidatos – Tarcísio ou Esquerda – quiser convencer um Prefeito aliado do atual governo a apoiá-lo, deverá estar muito forte nessa cidade.

sexta-feira, 1 de abril de 2022

E agora, João?

 

Acompanhando a trajetória de João Doria desde que assumiu a prefeitura da cidade de São Paulo em 1º de janeiro de 2017, me ponho a pensar:

E se Doria, contrariando sua promessa, não tivesse deixado o cargo em 07 de abril de 2018, cumprindo apenas 30% do seu mandato?

E se Doria fosse reeleito Prefeito de São Paulo e continuasse impondo o ritmo forte dos seus 15 meses de administração, mesmo com algumas polêmicas evitáveis?

E se Doria tivesse honrado o acordo firmado com Geraldo Alckmin e Marcio França apoiando-os incondicionalmente, o primeiro à Presidência da República e o segundo para Governador do Estado nas eleições de 2018, em troca do apadrinhamento recebido para vencer as prévias contra Andrea Matarazzo e Ricardo Tripoli, os preferidos dos quase 30 mil filiados do PSDB na capital paulista em 2016?

E se Doria em junho de 2019 tivesse sido mais educado com o Coronel da PM que mexia em seu celular enquanto o Governador discursava, evitando assim a antipatia dos profissionais da Segurança Pública?

E se Doria, depois de subir no palanque de Bolsonaro em 2018 e assumir o tal “Bolsodoria”, não tivesse antagonizado com o Presidente logo no início de 2019 deixando clara a sua vontade de se cacifar para as eleições de 2022?

E se Doria não tivesse buscado convencer o Ministro da Economia, Paulo Guedes, de sair do governo para assim tentar derrubar a credibilidade do Governo Bolsonaro?

E se Doria, durante a pandemia, não se tivesse se preocupado em ser o “pai da vacina” e apenas trabalhasse para que ela tivesse preço justo e a eficácia prometida?

E se Doria, nesse mesmo momento, tivesse evitado tamanha exposição, dando coletivas diárias de forma emotiva e atemorizadoras?

E se Doria, para ser o candidato do PSDB à Presidência da República em 2022, não tivesse feito de tudo para ganhar as prévias, se indispondo com vários personagens de relevância do PSDB?

Essas são apenas algumas questões que me vêm à cabeça quando penso nesse personagem político, pois lembro do seu surgimento, ainda em 2016, trazendo novos ares ao PSDB e a política brasileira, como por exemplo o discurso de modernização da gestão pública e agora vejo a possibilidade de ele estar, forçosamente, se afastando da política apenas 6 anos depois, deixando poucas lembranças positivas, angariando muitos inimigos e colocando um partido, que por um bom tempo foi o mais importante do país, em estado pré-falimentar.

Como técnico, me pergunto por que Doria teria tomado tantas decisões equivocadas, pois enquanto todas as nossas pesquisas apontavam para uma direção, estranhamente, ele caminhava convicto para o lado totalmente contrário!

Quais eram as fontes de informações para as suas decisões?

1.Ele tinha em suas mãos pesquisas malfeitas, genéricas ou que falavam o que ele queria ouvir?

2.Relatórios de redes sociais, que se embasam apenas em uma pequena e específica parte dos eleitores brasileiros?

3.Seguia apenas os seus instintos e desejos?

A partir de agora, fora do governo do Estado de São Paulo e vencedor das prévias do partido para concorrer à Presidência da República, Doria se tornou uma presa fácil para a vingança de todos aqueles que foram tirados de seu caminho.

Sinto um forte cheiro de traição ou ajuste de contas nos próximos meses quando deverá ocorrer a decisão final de quem será o candidato do partido em 2022.

Por isso, só me resta perguntar: E agora, João?