segunda-feira, 10 de junho de 2019

A política agrava os casos de suicídio?

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Nada me assusta mais do que o tema suicídio.
A discussão dicotômica entre ser um ato de coragem e covardia me traz mais calor do que luz.
Não sei também se presto muita atenção nesse tipo de ato ou se realmente o suicídio vem se tornando algo mais comum em nossa sociedade.
Dentro da minha competência como pesquisador, nada mais me restava do que tentar entender um pouco mais esse momento do que avaliando números.
Sabemos que o Estado de São Paulo não é o campeão de casos de suicídio no país, porém por sua representatividade populacional (22% do país), usei como base amostral os dados oficiais do SEADE das taxas de suicídio por 100 mil habitantes de todas as 645 cidades do Estado de São Paulo, de 1980 a 2016.
A partir desses dados percebemos, pela linha de tendência, que realmente as taxas vêm aumentando e podem aumentar ainda mais.



Quando avaliamos os dados por décadas, apesar da década de 2010 ainda estar incompleta, notamos que essa triste evolução é real.





A média de suicídios por 100 mil habitantes na década de 80 (1980 – 1989) e da década de 90 (1990-1999) ficaram praticamente estagnadas no mesmo patamar, vindo a cair 2,4% na década de 2000 (2000 – 2009), o que demonstra certa estabilidade, mas com tendência de queda. Porém, a década de 2010 (2010 – 2016) a taxa de suicídios por 100 mil habitantes pulou para 11,78, ou seja, teve um crescimento real de 12,1%.
Entendo que o tema suicídio é multifatorial e sai farejando algumas opiniões de especialistas para tentar entender melhor essa questão.
Alguns especialistas afirmam que a relação dos homens e mulheres com a internet trouxe grande evolução a sociedade, mas ao mesmo tempo um custo social e familiar muito grande.
Avaliando as taxas de suicídio por 100 mil habitantes por períodos marcantes da história da internet (data de lançamento no Brasil), temos:




Notamos que o período “pós redes sociais” teve aumento da taxa de suicídio por 100 mil habitantes no Estado de São Paulo.
Afirmar que as redes sociais potencializaram a tendência de casos de suicídios no Estado de São Paulo, aqui usado como amostra do país, pode ser prematuro, porém os números confirmam essa triste evolução.
Outro fator abordado, também citado como uma das possíveis causas de suicídio, é com relação à economia e emprego.
Buscando explicitar essa possível relação, apliquei o estudo de Correlação Pearson entre esses dados (PIB x Taxa de suicídios/100 habitantes) do período de 1980 a 2016 e notei que o resultado é desprezível (0,27) na escala de 0 a 1. Portanto, não podemos afirmar que existe correlação entre riqueza e suicídio!
Outra hipótese levantada seria a possível relação entre o momento político do país e os casos de suicídios. A história demonstra que em países com problemas políticos, de regimes autoritários ou revolucionários, esses casos tinham tendência de crescimento.




Pelo gráfico acima percebemos que a volta dos civis ao comando do país resultou na queda das taxas de suicídio. Porém, essa taxa veio obtendo crescimento até o período do Governo Lula com uma pequena queda e posteriormente com crescimento substancial no Governo Dilma (16,2%).
Voltando a gráfico inicial ano a ano (1980 a 2016), notamos que em 1989 a taxa de suicídio por 100 mil habitantes (9,50) foi a menor da série histórica e 2015, a maior (12,93).
O que teria acontecido no Estado de São Paulo ou país no em 1989 e 2015 para haver essa diferença tão grande entre as taxas (36,1%)?
Não sei se é pelo fato de ser cientista político que me faz ter os olhos mais voltados para o momento político do Brasil nesses dois anos, mas há de se notar que em 1988 tivemos a promulgação da Constituição, uma festa democrática com muita repercussão na imprensa e em 1989, eleições diretas após 20 anos de governos militares.
O ano de maior taxa de suicídios dos 37 anos de nosso estudo foi precedido pela campanha eleitoral de 2014, certamente a mais conflitante de nossa história, com o país ainda em convulsão após as manifestações de junho de 2013 e com inúmeras denúncias de corrupção aos Governos Lula e Dilma.
Em 2015 o segundo Governo Dilma começou sob ataques e com tantas crises o resultado foi de caos econômico e político.
Obviamente que é prematuro concluir que o momento político de um país seja o único motivo propulsor de tendência suicidas, mas a relação entre o acirramento entre os lados da democracia e o esgarçamento do tecido social impulsionados pela ação das redes sociais pode estar potencializando esses dados.
Os líderes do país devem entender que a busca interminável pela paz social, pelo diálogo, pela amenização dos discursos e dar importância para o que é importante aos brasileiros pode ser o melhor remédio para as famílias brasileiras que se entristecem demais pela perda de um ente querido em situação de suicídio.

2 comentários:

  1. Inevitável não traçar um paralelo com aquilo que é objeto de nossas profissões, pesquisas ou áreas de atuação. Entendo também que um ponto de vista a ser observado é que com a popularização do acesso a internet a consequência foi o conhecimento de métodos e ciência de notícias de suicídios que fomentaram a coragem (ou covardia) daqueles que cometem suicídio.Penso também que o momento político contemporâneo ao ato do suicídio, aliado as consequências das direções tomadas, também podem ser mais um aglutinador de motivos para quem o comete.

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  2. É assustador pensar que uma crise política não afeta só a vida social das pessoas, mas também rouba-lhes a esperança a tal ponto que, o cerebro entra em colapso e deixa de produzir a tão necessária serotonina.

    A política é o espelho de uma sociedade. Se a Política está doente doente, é porque a sociedade está infectada pelo vírus da corrupção. E chega uma hora que a doença da alma, cobra seu preço.

    Ou a sociedade reage e volta-se para valores há muito esquecidos, ou infelizmente os índices de suicídio aumentarão.

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