Nada
me assusta mais do que o tema suicídio.
A
discussão dicotômica entre ser um ato de coragem e covardia me traz mais calor
do que luz.
Não
sei também se presto muita atenção nesse tipo de ato ou se realmente o suicídio
vem se tornando algo mais comum em nossa sociedade.
Dentro
da minha competência como pesquisador, nada mais me restava do que tentar
entender um pouco mais esse momento do que avaliando números.
Sabemos
que o Estado de São Paulo não é o campeão de casos de suicídio no país, porém
por sua representatividade populacional (22% do país), usei como base amostral os
dados oficiais do SEADE das taxas de suicídio por 100 mil habitantes de todas
as 645 cidades do Estado de São Paulo, de 1980 a 2016.
A
partir desses dados percebemos, pela linha de tendência, que realmente as taxas
vêm aumentando e podem aumentar ainda mais.
Quando
avaliamos os dados por décadas, apesar da década de 2010 ainda estar
incompleta, notamos que essa triste evolução é real.
A
média de suicídios por 100 mil habitantes na década de 80 (1980 – 1989) e da
década de 90 (1990-1999) ficaram praticamente estagnadas no mesmo patamar,
vindo a cair 2,4% na década de 2000 (2000 – 2009), o que demonstra certa
estabilidade, mas com tendência de queda. Porém, a década de 2010 (2010 – 2016)
a taxa de suicídios por 100 mil habitantes pulou para 11,78, ou seja, teve um
crescimento real de 12,1%.
Entendo
que o tema suicídio é multifatorial e sai farejando algumas opiniões de especialistas
para tentar entender melhor essa questão.
Alguns
especialistas afirmam que a relação dos homens e mulheres com a internet trouxe
grande evolução a sociedade, mas ao mesmo tempo um custo social e familiar
muito grande.
Avaliando
as taxas de suicídio por 100 mil habitantes por períodos marcantes da história
da internet (data de lançamento no Brasil), temos:
Notamos
que o período “pós redes sociais” teve aumento da taxa de suicídio por 100 mil
habitantes no Estado de São Paulo.
Afirmar
que as redes sociais potencializaram a tendência de casos de suicídios no
Estado de São Paulo, aqui usado como amostra do país, pode ser prematuro, porém
os números confirmam essa triste evolução.
Outro
fator abordado, também citado como uma das possíveis causas de suicídio, é com
relação à economia e emprego.
Buscando
explicitar essa possível relação, apliquei o estudo de Correlação Pearson entre
esses dados (PIB x Taxa de suicídios/100 habitantes) do período de 1980 a 2016 e
notei que o resultado é desprezível (0,27) na escala de 0 a 1. Portanto, não
podemos afirmar que existe correlação entre riqueza e suicídio!
Outra
hipótese levantada seria a possível relação entre o momento político do país e
os casos de suicídios. A história demonstra que em países com problemas
políticos, de regimes autoritários ou revolucionários, esses casos tinham
tendência de crescimento.
Pelo
gráfico acima percebemos que a volta dos civis ao comando do país resultou na
queda das taxas de suicídio. Porém, essa taxa veio obtendo crescimento até o
período do Governo Lula com uma pequena queda e posteriormente com crescimento
substancial no Governo Dilma (16,2%).
Voltando
a gráfico inicial ano a ano (1980 a 2016), notamos que em 1989 a taxa de
suicídio por 100 mil habitantes (9,50) foi a menor da série histórica e 2015, a
maior (12,93).
O
que teria acontecido no Estado de São Paulo ou país no em 1989 e 2015 para
haver essa diferença tão grande entre as taxas (36,1%)?
Não
sei se é pelo fato de ser cientista político que me faz ter os olhos mais
voltados para o momento político do Brasil nesses dois anos, mas há de se notar
que em 1988 tivemos a promulgação da Constituição, uma festa democrática com
muita repercussão na imprensa e em 1989, eleições diretas após 20 anos de
governos militares.
O
ano de maior taxa de suicídios dos 37 anos de nosso estudo foi precedido pela
campanha eleitoral de 2014, certamente a mais conflitante de nossa história,
com o país ainda em convulsão após as manifestações de junho de 2013 e com
inúmeras denúncias de corrupção aos Governos Lula e Dilma.
Em
2015 o segundo Governo Dilma começou sob ataques e com tantas crises o
resultado foi de caos econômico e político.
Obviamente
que é prematuro concluir que o momento político de um país seja o único motivo
propulsor de tendência suicidas, mas a relação entre o acirramento entre os
lados da democracia e o esgarçamento do tecido social impulsionados pela ação
das redes sociais pode estar potencializando esses dados.
Os
líderes do país devem entender que a busca interminável pela paz social, pelo
diálogo, pela amenização dos discursos e dar importância para o que é
importante aos brasileiros pode ser o melhor remédio para as famílias
brasileiras que se entristecem demais pela perda de um ente querido em situação
de suicídio.