sexta-feira, 29 de abril de 2022

A força dos Prefeitos Municipais

 


Percebo que alguns jornalistas, políticos e profissionais de marketing político insistem em transferir o mesmo cenário eleitoral polarizado do contexto federal para o nível estadual. No Estado de São Paulo, por exemplo, os olhares estão mais direcionados para a disputa entre Tarcísio de Freitas, representando os eleitores mais à direita e, um candidato de esquerda, possivelmente, Marcio França ou Fernando Haddad.

Na minha opinião essa leitura está equivocada, afinal, a realidade dos estados, a formatação das campanhas eleitorais e os atores são totalmente diferentes. Ademais, notamos que em alguns estados existem players com grande potencial de votos sem ligação – partidária e/ou ideológica – com Bolsonaro ou Lula.

Outro ponto a se destacar é a correlação estatística (Pearson) existente entre os votos dos cargos disputados. Em estudo realizado pelo IBESPE, pudemos identificar a boa relação entre o voto do Deputado Federal e o voto para Presidente da República. Esse dado se repete, em menor grau, entre os votos para Deputado Estadual e Governador do Estado.

Além de todos esses aspectos apresentados, não podemos esquecer de um ator fundamental para a eleição de Governador do Estado: os Prefeitos Municipais.

Os Prefeitos têm capacidade política e financeira para convencer Vereadores, lideranças da sociedade civil, associações etc. a apoiarem um candidato ou projeto de governo e, enquanto as campanhas profissionais para o Governo do Estado transcorrem em salas de reuniões, gravações de programas eleitorais, entrevistas, visitas programadas etc. um mar de agentes políticos percorre as cidades conversando diretamente com as pessoas.

Em todas as pesquisas notamos que é crescente a indignação das pessoas pelo distanciamento dos políticos - muito presente nas redes sociais e muito ausente das ruas - o que alimenta ainda mais a necessidade de um exército de pessoas em campo. Por esse motivo, ter Prefeitos aliados é de suma importância para um candidato ao Governo do Estado.

Voltando às eleições do Estado de São Paulo e considerando a força dos Prefeitos em uma eleição ao Governo do Estado, a polarização entre Tarcísio e a Esquerda poderá sofrer algum abalo. Vamos aos números:

Dos 645 municípios do Estado de São Paulo, 151 (23,4%) são governados por prefeitos mais alinhados a Tarcísio de Freitas e dos 32,3 milhões de eleitores do Estado, essas cidades somam 5,9 milhões de eleitores (18,3%).

Quando falamos de governos mais alinhados à Esquerda – Márcio França ou Fernando Haddad - temos 48 municípios (7,4%) com 1,9 milhões de eleitores (5,9%).

Porém, quando tratamos de governos municipais mais alinhados a Rodrigo Garcia, representante do atual governo, temos 446 municípios (69,1%) e neles residem 24,3 milhões de eleitores (75,2%). Se por um lado esse candidato carrega a reprovação pessoal do atual Governador João Doria, traz consigo a capacidade financeira de transformar projetos municipais em realidade, o que certamente ajudará prefeitos para as eleições de 2024.

Devemos considerar que os eleitores têm independência em votar e os Prefeitos, com os olhos mirando 2024, sentirão a temperatura de sua cidade em relação aos candidatos e isso poderá mudar o seu apoio, ou seja, se um dos candidatos – Tarcísio ou Esquerda – quiser convencer um Prefeito aliado do atual governo a apoiá-lo, deverá estar muito forte nessa cidade.

sexta-feira, 1 de abril de 2022

E agora, João?

 

Acompanhando a trajetória de João Doria desde que assumiu a prefeitura da cidade de São Paulo em 1º de janeiro de 2017, me ponho a pensar:

E se Doria, contrariando sua promessa, não tivesse deixado o cargo em 07 de abril de 2018, cumprindo apenas 30% do seu mandato?

E se Doria fosse reeleito Prefeito de São Paulo e continuasse impondo o ritmo forte dos seus 15 meses de administração, mesmo com algumas polêmicas evitáveis?

E se Doria tivesse honrado o acordo firmado com Geraldo Alckmin e Marcio França apoiando-os incondicionalmente, o primeiro à Presidência da República e o segundo para Governador do Estado nas eleições de 2018, em troca do apadrinhamento recebido para vencer as prévias contra Andrea Matarazzo e Ricardo Tripoli, os preferidos dos quase 30 mil filiados do PSDB na capital paulista em 2016?

E se Doria em junho de 2019 tivesse sido mais educado com o Coronel da PM que mexia em seu celular enquanto o Governador discursava, evitando assim a antipatia dos profissionais da Segurança Pública?

E se Doria, depois de subir no palanque de Bolsonaro em 2018 e assumir o tal “Bolsodoria”, não tivesse antagonizado com o Presidente logo no início de 2019 deixando clara a sua vontade de se cacifar para as eleições de 2022?

E se Doria não tivesse buscado convencer o Ministro da Economia, Paulo Guedes, de sair do governo para assim tentar derrubar a credibilidade do Governo Bolsonaro?

E se Doria, durante a pandemia, não se tivesse se preocupado em ser o “pai da vacina” e apenas trabalhasse para que ela tivesse preço justo e a eficácia prometida?

E se Doria, nesse mesmo momento, tivesse evitado tamanha exposição, dando coletivas diárias de forma emotiva e atemorizadoras?

E se Doria, para ser o candidato do PSDB à Presidência da República em 2022, não tivesse feito de tudo para ganhar as prévias, se indispondo com vários personagens de relevância do PSDB?

Essas são apenas algumas questões que me vêm à cabeça quando penso nesse personagem político, pois lembro do seu surgimento, ainda em 2016, trazendo novos ares ao PSDB e a política brasileira, como por exemplo o discurso de modernização da gestão pública e agora vejo a possibilidade de ele estar, forçosamente, se afastando da política apenas 6 anos depois, deixando poucas lembranças positivas, angariando muitos inimigos e colocando um partido, que por um bom tempo foi o mais importante do país, em estado pré-falimentar.

Como técnico, me pergunto por que Doria teria tomado tantas decisões equivocadas, pois enquanto todas as nossas pesquisas apontavam para uma direção, estranhamente, ele caminhava convicto para o lado totalmente contrário!

Quais eram as fontes de informações para as suas decisões?

1.Ele tinha em suas mãos pesquisas malfeitas, genéricas ou que falavam o que ele queria ouvir?

2.Relatórios de redes sociais, que se embasam apenas em uma pequena e específica parte dos eleitores brasileiros?

3.Seguia apenas os seus instintos e desejos?

A partir de agora, fora do governo do Estado de São Paulo e vencedor das prévias do partido para concorrer à Presidência da República, Doria se tornou uma presa fácil para a vingança de todos aqueles que foram tirados de seu caminho.

Sinto um forte cheiro de traição ou ajuste de contas nos próximos meses quando deverá ocorrer a decisão final de quem será o candidato do partido em 2022.

Por isso, só me resta perguntar: E agora, João?


terça-feira, 15 de março de 2022

ATENÇÃO ÀS CIDADES PEQUENAS

 


Venho fazendo diversos alertas para os erros involuntários das pesquisas eleitorais e que acabam resultando em informações contestadas pelo senso comum brasileiro e manchas nessa ferramenta tão fundamental para o planejamento estratégico de uma campanha eleitoral.

Esses erros involuntários são ocasionados por falta de capacidade técnica e acadêmica ou pressa de atender as demandas de estudos, principalmente aqueles que serão divulgados na imprensa.

Dentro do IBESPE temos um histórico que chamo de 70/10/20. Esses dados referem-se ao tempo que precisamos para cada etapa de uma pesquisa: 70% para o planejamento da pesquisa, 10% para a execução e 20% para a confecção e apresentação dos resultados ao cliente.

Todo esse tempo destinado ao planejamento de uma pesquisa, por mais simples que ela seja, não é à toa! Parafraseando Aristóteles “Um pequeno erro no início torna-se grande no fim.” Enfim, sair para O campo com algum problema de planejamento do estudo certamente reverterá em sérios problemas para as outras duas etapas.

Um cuidado muito especial que estamos tendo no planejamento das pesquisas nacionais e estaduais é o devido respeito à proporcionalidade em relação ao tamanho das cidades. No Brasil temos 69,8% das cidades com menos de 15 mil eleitores e que correspondem a 17,5% do eleitorado.

Tecnicamente temos que prestar atenção na correta proporcionalidade das entrevistas de acordo com o tamanho do eleitorado de cada Estado ou município, porém, venho me dedicando e muito para que nossos estudos consigam captar a opinião das pessoas que moram nas cidades pequenas.

O motivo é bem simples: nessas cidades as famílias vivem mais tempo juntas, fazem refeições juntas, conversam mais entre elas, se informam muito mais pelos meios mais tradicionais, estão propensos a assistir com mais assiduidade e atenção o horário eleitoral gratuito, são mais religiosas, votam de forma mais convicta e têm menos potencial de se abster no dia da eleição.

Para se ter uma ideia, nessas cidades as pessoas indicam como um dos motivos principais e preferenciais de lazer frequentar as ações da igreja! Como eu sei disso? Realizando muitas pesquisas sociais nesses municípios!

Sei que o trabalho de inserir essas cidades em um estudo é muito grande e conseguir o contato das pessoas, é ainda maior. Porém, todo e qualquer esforço deve ser realizado para que a melhor e mais fundamental ferramenta de planejamento de campanha, as pesquisas eleitorais, seja a mais confiável possível.


sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

O favoritismo de Bolsonaro

 


Conversado com agentes políticos com ou sem mandato de Brasília pude perceber que a grande maioria deles entende que o ex-presidente Lula vencerá as eleições em outubro de 2022. A única dúvida que resta, portanto, é se a vitória virá no 1º ou no 2º turno.

A liderança constante nas pesquisas eleitorais divulgadas, as alianças que o PT vem realizando com grande parte dos partidos e políticos brasileiros, o carinho dos grandes empresários e do setor econômico do país dá a campanha do ex-presidente a impressão de muita força eleitoral, o que acaba, de certa forma, contrastando com a sua ausência diante dos eleitores nas ruas.

Talvez eu seja o único técnico em pesquisa que avalia esse cenário de forma totalmente diferente. Creio que isso ocorra, pois enquanto muitas pessoas analisam os cenários políticos com o coração, de forma torcedora, eu prefiro focar minha atenção nos números de nossas pesquisas e os recados subliminares que eles emitem.

Para mim, o peso do tal “datapovo” tão defendido pelo Bolsonarismo é irrelevante! Porém, ele é um indicativo do que venho falando há um bom tempo. Bolsonaro tem eleitores mais convictos, com menos potencial de se abster no dia das eleições e a sua militância pode, de certa forma, convencer alguns eleitores menos politizados de que ele seria a melhor opção.

Venho pedindo a atenção das pessoas aos números das pesquisas! Enquanto cerca de 10% a 15% dizem anular o voto ou não saber em que irá votar, os outros 85% a 90% escolhem um candidato. Esse é um dado totalmente falso, afinal, sabemos que, historicamente, 30% dos eleitores não irão votar no dia 2 de outubro e nossos estudos provam que boa parte desse grupo está hoje votando em Lula.

Outro ponto muito favorável a Bolsonaro detectado em nossos estudos é com relação aos hábitos de consumo de mídia dos eleitores para o assunto política. 52% dos eleitores afirmam se informar sobre esse tema através da televisão, onde todos nós sabemos não ser o local que Bolsonaro tem o melhor trânsito. As redes sociais, tão defendida por Bolsonaro, têm peso bem menor: apenas 24% se informam sobre política através desse canal.

Com o início da campanha eleitoral, Bolsonaro terá a oportunidade de estar pela primeira vez em horário nobre de forma positiva, sem ser interpelado, mostrando as realizações de seu governo e tentando melhorar a sua imagem em relação aos problemas econômicos e a pandemia.

O eleitor médio está sempre muito distante do assunto política! Em uma cidade com 10 mil eleitores, por exemplo, é de certa forma muito natural que mais de 80% da população tenha dificuldade em indicar uma obra ou ação de um prefeito! Imagine você para o governo de Bolsonaro que insiste em tratar as redes sociais como canal de comunicação principal com os eleitores.

Enfim, apesar de sua rejeição estar muito alta nesse momento, o único dos candidatos que tem capacidade de melhorar a sua situação eleitoral é o próprio presidente e Lula, sim, ele já está no seu patamar mais alto e a tendência é que aos poucos comece a ter desgastes e caia alguns pontos.


quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

A HONESTIDADE DE LULA E DO PT

 


O Partido dos Trabalhadores foi fundado em 1980 com a promessa de representar a classe trabalhadora do país e em pouco tempo ganhou a simpatia de jornalistas, artistas, acadêmicos, funcionalismo público e boa parte da população menos favorecida.

Com promessas de igualdade e principalmente de combate a corrupção, em seus primeiros 20 anos, começou a conquistar cadeiras nos poderes legislativos municipais, estaduais, federal, prefeituras de cidades cada vez mais relevantes, governos de estado, restando apenas a Presidência da República.

Sempre com discurso muito forte e postura pouco convidativa, seu maior expoente, Luiz Inácio Lula da Silva tentou por três vezes vencer as eleições nacionais, até que em 2002, orientado por uma equipe de marketing muito competente, mudou a sua aparência, reduziu a estridência de suas declarações e adequou as suas propostas aos anseios do perfil majoritário da população brasileira.

Precisando ainda conquistar os grandes financiadores e fiadores do país, o mercado financeiro, em nome desse “novo Lula”, Antônio Palocci, confeccionou a Carta ao Povo Brasileiro, onde o PT e seu futuro presidente, se comprometiam a não tomar decisões que contrariassem as diretrizes que colocaram a economia brasileira nos trilhos.

A despeito dos erros processuais e inconstitucionalidades cometidas pela Operação Lava-Jato, boa parte da cúpula do Partido dos Trabalhadores, bem como o seu maior líder, foram condenados em diversas instâncias e presos por corrupção, porém, a partir de uma decisão sem precedentes do Ministro Luiz Edson Fachin, voltaram ao jogo político, mas, dessa vez, diferente de 20 anos atrás, parece que Lula e seu partido estão dando mais ouvidos para sua consciência, sua ideologia e história do que aos seus profissionais de marketing.

A ex-presidente Dilma Rousseff, os ex-ministros José Genoíno, José Dirceu e sobretudo, o ex-presidente Lula, vêm deixando muito bem claro de que, ganhando as próximas eleições, a intenção será a de finalizar o projeto socialista começado de forma sutil em 1988 e encaminhado de forma muito mais forte a partir de 2002.

Lula e o PT estão sendo muito honestos com todo o Brasil e os eleitores que não desejam esse modelo de país terão a oportunidade de demonstrar a sua insatisfação nas urnas. Por outro lado, àqueles que desejam ajudar a finalizar o projeto socialista iniciado há 30 anos no Brasil, conheçam um pouco da história do jornalista cubano Miguel Ángel de Quevedo.


segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

Mensagens vindas do Chile

 

 Ontem, 19 de dezembro, o político de esquerda e ex-líder estudantil, Gabriel Boric, venceu no 2º turno o candidato conservador, José Antonio Kast, e aos 35 anos de idade, se tornou presidente do Chile.

Boric fundamentou a sua campanha na promessa de trazer mais justiça social ao povo chileno, a partir da demolição dos pilares conservadores e liberais que tornaram esse país na nação mais bem sucedida da América Latina.

O candidato conservador, Kast, havia vencido o 1º turno com aproximadamente 30% dos votos válidos, mas acabou sendo derrotado no 2º turno e isso, na minha opinião, serve como um aviso ao Presidente Jair Bolsonaro para as eleições de 2022.

Faço essa afirmação pois, o discurso conservador de Deus, Pátria e Família tem capacidade natural de unir boa parte dos eleitores brasileiros ou de qualquer país ocidental, empurrando o seu candidato ao 2º turno, porém, para vencer as eleições, algo mais precisa ser feito.

Se o candidato for da situação, precisará mostrar os bons resultados do governo e, caso o candidato represente a oposição, ele deverá ter a narrativa alinhada com as demandas e anseios mais latentes dos eleitores.

Bolsonaro tem a seu favor o discurso e as ações conservadoras, além de um governo com 3 anos sem nenhum escândalo de corrupção, o que o colocam muito próximo do 2º turno, mas para vencer terá de mostrar os resultados do seu governo.

Tudo indica que ele terá como adversário o ex-presidente Lula que tem sua base eleitoral formada por 3 tipos de eleitores:

1.Aqueles que acreditam que Lula e o PT jamais roubaram e são acusados injustamente;

2.Aqueles que acreditam que Lula e o PT roubaram, mas foram incentivados por uma causa maior, pela implementação de sua ideologia;

3.Aqueles que acreditam que Lula e o PT roubaram, mas no período em que eles estiveram no governo, sua vida era melhor, foi um governo de resultados, o tradicional “rouba, mas faz”.

No Brasil mostrar resultados não é nada fácil, afinal, os governos – de todas as instâncias – cresceram tanto que reduziram a praticamente zero a capacidade de investimento do Poder Público.

Além desse obstáculo, Bolsonaro sofre com o ativismo judicial, municiado pela oposição ao seu governo.

O exemplo mais claro é a atuação do Senador Randolfe Rodrigues que representa o Amapá, um estado com 16 cidades (0,29% das 5.570) e 518.527 eleitores (0,35% dos 145 mi), que não se furta em atravessar a Praça dos Três Poderes e incitar a decisão monocrática de um Ministro do STF contra a decisão do Executivo ou do Legislativo.

Bolsonaro precisará de profissionais capazes de identificar tecnicamente as demandas e anseios dos eleitores, construir uma narrativa capaz de emocionar essas pessoas e por fim comunicar de forma adequada e convincente.

Ter uma equipe formada por profissionais de pesquisas, estrategistas e marketing político ajudará a manter o seu potencial eleitoral no universo das redes sociais e fincar com pé nos outros meios de comunicação.

O TSE buscará de todas formas limitar o alcance das redes sociais, hoje mais favoráveis ao Presidente da República, por isso, o Horário Eleitoral Gratuito, bem como os debates serão essenciais para Bolsonaro.

As eleições de 2022 serão muito diferentes de 2018 e o Presidente, seus companheiros mais próximos, entre eles seus filhos, devem aceitar que existe bons consultores políticos que congregam com seus valores.


quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

É o Congresso, Bolsonaro!

 

O estrategista político de Bill Clinton nas eleições americanas de 1992, James Carville, cunhou uma frase que acabou por se tornar case de marketing eleitoral: “É a economia, estúpido!”

Carville deixava claro com essa expressão impactante que o presidente em exercício, George Bush, apesar de ter vencido a Guerra do Golfo (1991) e com ela ter devolvido a autoestima do povo americano afetada após a triste experiência da Guerra do Vietnã (1955 a 1975), administrava um país que passava por um momento de recessão e que a pauta principal das eleições deveria ser o tema economia.

Clinton aceitou a sugestão, venceu as eleições e a frase de James Carville virou um livro de grande sucesso!

Esse insight não surgiu espontaneamente da genialidade de Carville. As estratégias eleitorais são construídas a partir de informações levantadas por pesquisas de opinião – quantitativas e qualitativas - que captam o verdadeiro sentimento da população, para assim identificar quais deverão ser as pautas para tentar buscar o sucesso eleitoral. Nem todos os políticos trabalham dessa forma, seja por acreditar que pesquisas têm preços muito elevados (o que não é verdade) ou por achar, equivocadamente, que elas são fontes de premonição de resultados e não a principal base do planejamento de uma campanha.

O processo eleitoral dura em torno de 6 meses, pois antes desse período os eleitores ainda estão muito dispersos. Porém, em caso de vitória, o político deverá estar preparado para prestar contas e dar resultados durante os próximos 4 anos.

A dificuldade de Jair Bolsonaro governar o país nesse primeiro mandato deixou muito claro que houve foco excessivo na campanha presidencial, enquanto a necessidade de se ter um Congresso – Deputados e Senadores – alinhados com o pensamento do Executivo foi deixada em segundo plano.

A Constituição de 1988, apesar de promover o regime presidencialista, foi confeccionada para um Brasil parlamentarista e mesmo a população brasileira reafirmando o seu desejo em viver em um país com um Presidente da República fortalecido (plebiscito de 1993), o Legislativo vem avançando sobre as matérias do Executivo e hoje tem poderes capazes de inviabilizá-lo!

Formar uma grande bancada a seu favor será importante não só para administrar com um pouco mais de tranquilidade, mas também para ter ao seu lado partidos com capacidade financeira para as próximas eleições e assim, pensar em um projeto de longo prazo ao país.

Os partidos sabem disso, pois a divisão do Fundo Eleitoral tem relação direta com a sua força eleitoral, vejamos:

- 48% são divididos entre os partidos, de forma proporcional ao número de representantes na Câmara dos Deputados na última eleição geral

- 35% vão para os partidos na proporção do percentual de votos válidos obtidos pelas siglas que tenham pelo menos um representante na Câmara

- 15% são distribuídos entre as legendas na proporção do número de representantes no Senado

- 2% são divididos igualmente entre todos os partidos registrados no TSE.

O eleitor brasileiro é materialista e egoísta ao extremo e por isso, o tema economia será sempre a principal pauta das eleições brasileiras, ou seja, em nosso país a frase de Carville se mantem atualizada!

Por outro lado, se Bolsonaro pensa em um segundo mandato mais calmo, deverá focar na formação de uma grande bancada, pois eu tenho certeza que a oposição, diante da dificuldade de enfrentar o Presidente em uma reeleição nas urnas, já está desenhando esse quadro!


terça-feira, 9 de novembro de 2021

A imagem real e projetada de Moro

 


Em entrevista ao programa Contraponto do Brasil Paralelo de 08 de novembro, Augusto Nunes afirmou que após conhecer e conversar com o ex-juiz e agora candidato, Sérgio Moro, acreditou estar diante de alguém bem intencionado e ingênuo.

Um dia após, no Programa Pânico, o Senador Eduardo Girão do Estado do Ceará, elogiou de forma contundente a operação Lava Jato, justificando assim, a entrada de Moro para a política, pela sua conduta profissional e pessoal. Além disso, Girão acredita que a divisão que o país se encontra atualmente, seria resolvida com a eleição de Moro para a Presidência da República.

Todos os envolvidos nos comentários acima são profissionais e pessoas de ótima reputação, mas que talvez tenham dificuldade em analisar, ainda, de forma mais adequada a história de Sérgio Moro, suas relações políticas, profissionais e suas verdadeiras intenções e ambições pessoais.

Acreditar que o ex-juiz é uma pessoa ingênua, certamente é um exagero. Moro não é um garoto, trabalhou, viveu e tomou decisões sempre sob muita pressão. Claro que a política é um campo muito diferente do que o campo jurídico, mas todos são seres humanos com suas forças e fraquezas. Avaliar que Sérgio Moro é menos inteligente e sagaz que a média dos políticos brasileiros é uma ofensa grave ao ex-juiz.

Girão, que vem se posicionando de forma muito independente, o que é certamente o desejo de seus eleitores e da grande maioria dos eleitores brasileiros, parece acreditar em algo impossível: existir um personagem que possa unir o país.

O Brasil nunca foi um país unido! Em realidade apenas uma voz era ouvida! As redes sociais deram voz a maioria silenciosa que ninguém mais calará! Na minha opinião, a desunião atual é mais frutífera do que o discurso uníssimo de outrora. Falta ainda tempo para calibrar os discursos, o que me parece um pouco difícil para os próximos 20 anos.

Tenho certeza que a eleição de Moro jamais será capaz de unir todos os brasileiros sem nenhum tipo de divergência! Sérgio Moro não agrada Lulistas devido as decisões corretas tomadas ainda como juiz e, também não agrada aos Bolsonaristas, pela sensação de traição contra o Presidente.

Em um texto anterior tomei a liberdade em apresentar alguns pontos que Moro deverá esclarecer sobre sua vida e seu passado, que indubitavelmente, aparecerão durante o período eleitoral.

Acredito que nos próximos meses Moro sentirá a temperatura das eleições e acabará optando por um caminho menos tortuoso, podendo assim, sair para o senado do Estado do Paraná.

Por enquanto, vou torcendo para que eu esteja totalmente equivocado em relação a imagem que tenho plasmada de Sérgio Moro e das ocorrências da operação Lava Jato. Espero que a imagem real de Moro seja exatamente igual a imagem projetada para boa parte dos brasileiros.


sexta-feira, 5 de novembro de 2021

Conselhos a Sergio Moro e Deltan Dallagnol

 

Sérgio Moro e Deltan Dallagnol se afastaram do Ministério Público deixando para trás salários e benefícios invejáveis, estabilidade no emprego e a garantia de uma ótima aposentadoria, tudo para seguir carreira na política.

No MP, Moro e Dallagnol, realizaram um trabalho extraordinário descortinando esquemas que todos já conheciam, porém, por décadas intocáveis. Colocar na prisão personagens graúdos da política e dos negócios foi, sem dúvida, um ato de muita coragem e isso só foi capaz devido à parceria profícua com a imprensa que divulgava de forma histriônica cada uma das ações, resultando em apoio irrestrito da população exausta em ser subjugada pelos Donos do Poder.

Todos os possíveis excessos eram relevados, o que fez com que boa parte da opinião pública se esquecesse de que o MP era e continua sendo formado por pessoas e que, como qualquer uma, têm dentro de si interesses financeiros, ideológicos e de poder.

Ambos têm ótimos atributos e bom potencial para se elegerem à cargos legislativos, mas devem entender que na arena política enfrentarão jogadores muito hábeis e que não aceitarão a derrota de forma amigável.

Sempre que sou consultado para realizar uma pesquisa de planejamento de campanha, pergunto ao político se existe algum “cadáver no armário”. Essa informação é essencial para anteciparmos ataques e identificarmos o potencial do candidato. Moro e Dallagnol estão atentos a essa situação ou estão avaliando seu futuro pela temperatura das redes sociais e por pesquisas que não tocam em pontos sensíveis?

Pautado pelas informações da imprensa, tomo a liberdade de colocar alguns pontos que eles deverão se preparar para o futuro combate. Não detalho cada um deles, pois são casos públicos, mas muito complexos para se tratar nesse curto espaço.

Todas as acusações têm potencial de prejudicar a candidatura de ambos e agora, fora do MP, os dois poderão ter prejuízos muito grandes por não possuírem foro privilegiado, são elas:

 

1.Proteção a Álvaro Dias, FHC, PSDB e Delegado Maurício Moscardi

2.Relação com Open Society, Família Arns e Alexandre de Moraes

3.Caso Banestado e relação com Alberto Youssef

4.Denúncias de Rodrigo Tacla Duran, Hermes Magnus, Delegado Fanton e The Intercept (Vaza Jato)

5.Ações de Erika Marena, Márcio Anselmo e Roberto Leonel no COAF

6.Excessos e possíveis ilegalidades da Lava Jato

7.Saída do Governo de Jair Bolsonaro (atitudes, vazamentos e repercussão na Bolsa de Valores)

8.Disney Rosseti e operação abafa na Lava Jato no Estado de SP

9.Partido dos Procuradores e criação de Fundação com dinheiro da Lava Jato

10.Alvarez & Marsal

11.Tentativa de nomeação de PGR ligado a Lava Jato

Por sobrevivência, Moro e Deltan, precisam ser eleitos, porém, boa parte dos políticos e eleitores (Lulistas pela prisão e Bolsonaristas pela traição) estão sedentos por vingança.

Nossos estudos apontam para a dificuldade de Moro e Dallagnol se elegerem para cargos executivos (Presidente e Governador) e por isso, dou apenas mais um conselho: saia ao legislativo!


segunda-feira, 18 de outubro de 2021

A PEC da vingança


Em 2008 eu ocupava o cargo de secretário municipal de saúde de Itanhaém/SP e um senhor apareceu em minha sala exigindo ser atendido. Ele relatava que seu filho havia nascido há 6 meses em São Paulo, Capital, e ainda se encontrava em uma incubadora dentro do hospital.

Estranhamente, todo o pré-natal, bem como o parto ocorreram na Capital, mesmo assim, ele, recém chegado na cidade, exigia que enviássemos um documento obrigando o hospital a dar alta para que ele pudesse trazer a criança para casa.

Me incomodei com a frieza com que o pai tratava o assunto e por isso pedi 7 dias para lhe dar um retorno. Nesse intervalo pedi que uma equipe técnica multidisciplinar (médico, fisioterapeuta, psicólogo e enfermeira) fosse ao hospital para entender melhor a situação.

Após 7 dias apresentamos ao pai o relatório dessa equipe que evidenciava a impossibilidade de a criança sair do ambiente hospitalar, pois era claro o risco de morte.

Inconformado com o resultado, ele foi ao Ministério Público que determinou, sob pagamento de multa, que a criança fosse trazida para a casa dos pais em no máximo 48 horas. Imediatamente pedi uma audiência com a Promotoria e no mesmo dia, eu e a médica responsável fomos a reunião.

Explicamos detalhadamente o caso, o que era a todo momento rechaçado pela promotora, autora da ação. Sem nenhuma esperança, notei que ela era casada e iniciei o seguinte diálogo:

- Dra, estou vendo que a senhora é casada? A Sra tem filhos?

- Tenho uma menina de 3 anos.

- Eu também tenho filhos e se eu estive na situação desse pai, eu jamais tiraria meu filho do hospital. A senhora tiraria sua filha nessas condições?

Ela ficou muito incomodada e antes que pudesse argumentar, fiz mais uma colocação:

- Se a Sra determinar, eu cumpro! Porém, preciso saber quem irá se responsabilizar se essa criança vir a óbitos. Eu que cumpri a determinação ou a Sra que determinou?

Naquele momento, após todo esse embate, a Promotora voltou atrás de sua decisão.

Conto essa história pessoal para exemplificar o que está em jogo com esse Projeto de Emenda Constitucional.

A PEC 05/2021 trata de mudar o número de participantes no Conselho Nacional do Ministério Público e vem sendo acusada, injustamente, de ser uma vingança do Legislativo “corrupto” contra a atuação do Judiciário “incorruptível”.

Precisamos entender que o MP é formado por pessoas que têm seus interesses pessoais, financeiros e ideológicos. Além disso, esses profissionais formados em Direito não têm capacidade técnica para opinar e decidir sobre tudo!

A Deputada Estadual Janaína Paschoal vem denunciando os excessos do judiciário, principalmente em relação a Pandemia. O MP determinou o fechamento de cidades, proibiu a prescrição de medicamentos e tratamentos sem nenhum tipo de conhecimento técnico!

A partir de notícias da imprensa (que também é formada por pessoas e por isso têm interesses pessoais, financeiros e ideológicos!) abrem processos contra empresas e brasileiros e, se depois de muita turbulência for comprovada a sua inocência, ninguém é punido por ter manchado a imagem do acusado.

A Operação Lava Jato foi fundamental para o país, mas pelas informações levantadas através dos vazamentos da operação, podemos supor que excessos e até ilegalidades foram cometidos. Os membros da operação nunca rechaçaram a veracidade dos vazamentos, apenas criticaram (com razão!) a forma criminosa que esse material foi obtido.

Sergio Moro e sua equipe puniram pessoas e empresas e depois, alguns dele foram trabalhar direta e indiretamente para essas empresas na área de compliance. A Petrobrás, por exemplo, já gastou mais com compliance do que a Lava Jato devolveu à empresa! Conflito de interesses? Pode ser!

O MP deve ter liberdade para investigar e acusar, mas também deve ser responsabilizado pelo desvio de conduta de algum de seus membros! Ninguém deve estar imune as leis!

O Brasil não precisa de vingança, mas de legalidade!

E, apenas para fechar o meu caso pessoal, pouco tempo depois, um membro da família me procurou em sigilo, para dizer que o menino veio a falecer após o pai tirá-lo do hospital por conta própria e que o intuito dele, desde o começo, era processar a prefeitura após a morte do filho!



sexta-feira, 10 de setembro de 2021

Caminho longo e sem volta

Grosso modo, nossos estudos mostram que Bolsonaro tem cerca de 1/3 do eleitorado a seu favor, 1/3 contra e 1/3 reúne: indecisos, possíveis abstenções e nulos, nomes da 3ª via e aqueles que balançam entre Bolsonaro e Lula, conforme o momento socioeconômico.

Os 33% de Bolsonaro são muito convictos e com baixo potencial de abstenção. Já os 33% contrários, mais próximos a Lula, são menos convictos e com alto potencial de abstenção (metodologia exclusiva do IBESPE).

Bolsonaristas duvidam desses dados, pois recorrem ao volume das manifestações de rua e redes sociais, invocando o tal “DataPovo”. Ignoram que, em números aproximados, 33% dos eleitores resulta em 48 milhões e se 10% deles se manifestarem, falamos em 5 milhões de pessoas!

Os 33% restantes, apesar de estarem tomados pelo desânimo sanitário e econômico, sobretudo por notícias negativas do Governo e do Presidente, têm perfil mais à direita. As opções da 3ª via têm perfil mais à esquerda e, essa desconexão, talvez explique a baixa relevância eleitoral desse grupo.

Por esses motivos, o meio político e o establishment sabem que Bolsonaro tem muita força para 2022 e tirá-lo da cadeira, através de impeachment ou impugná-lo, seria o cenário ideal para a volta da disputa histórica entre a social-democracia e a esquerda.

Essa medida colocaria o país em conflagração, porém, o perfil pacífico dos apoiadores de Bolsonaro causaria barulho e volume, mas não meios para uma possível revolução.

A 2ª opção oposicionista possível, seria bloquear a pauta política e econômica desgastando o Governo e, por fim, reduzindo o potencial de votos do Presidente.

Catapultar Bolsonaro da cadeira ou enfraquece-lo a ponto de torná-lo inelegível abrirá espaço para o surgimento de outro personagem com as mesmas características ideológicas e sem a reprovação pessoal do Presidente (Ministro Tarcísio?).

É um equívoco acreditar em um tal “Bolsonarismo bovino”. A maioria silenciosa, há 30 anos calada, se uniu em torno desse personagem e, ainda sem literatura e cultura necessária para o domínio da nação, vem se organizando. Não haverá volta!

Diante desse quadro, entendo que o país ficará travado, transformando o cenário político e econômico o pior possível e as ações para calar a onda conservadora aumentarão.

Nós, o Povo, sonhamos com o protagonismo, mas da forma que o Estado brasileiro está, continuaremos espectadores e financiadores dele, nos dando ao luxo de poder sorrir com vídeos do Tik Tok, por enquanto.